Sepultura volta a surpreender com o ótimo novo álbum Quadra, ouça

O Sepultura lançou, nesta sexta-feira (7), o seu 15° álbum de estúdio. O trabalho, intitulado “Quadra”, chega a público por meio da gravadora Nuclear Blast no exterior – no Brasil, a divulgação é pela BMG.

Com capa criada por Christiano Menezes (Darkside Books), “Quadra” traz, novamente, o Sepultura trabalhando com o produtor Jens Bogren, em estúdio na Suécia. Uma das músicas – “Fear, Pain, Chaos, Suffering”, a última da tracklist – tem participação de Emmily Barreto, vocalista do Far From Alaska.

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Ouça “Quadra” a seguir, via Spotify ou YouTube (playlist):

De acordo com o Sepultura, “Quadra” tem proposta conceitual. “Em português, além de outros significados, ‘Quadra’ significa ‘quadra esportiva’: uma área terrestre limitada, com demarcações, onde um jogo acontece com suas determinadas regras. Somos de diferentes ‘Quadras’. Todos os países têm fronteiras, tradições, cultura, religiões, leis, educação e um conjunto de regras onde a vida acontece”, diz, inicialmente.

O músico completa: “Nossas personalidades, o que acreditamos, como vivemos, como construímos sociedades e relacionamentos… tudo depende desse conjunto de regras com as quais crescemos. Conceitos de criação, deuses, morte e ética. Somos escravizados pelo conceito do dinheiro. Quem é pobre ou rico, é assim que medimos pessoas e bens. Independentemente de sua ‘Quadra’, você precisa de dinheiro para sobreviver. É a regra principal do jogo ‘vida'”.

Também em material de divulgação, Andreas Kisser explicou que “Quadra” é dividido em quatro partes. Cada “momento” do disco traz uma proposta diferente. “O álbum foi composto desta forma: dividido em quatro – três faixas para cada lado – como se fosse um disco de vinil duplo com os lados A, B, C e D. O lado A é mais tradicional, thrash, e representa o discurso do Sepultura. O lado B é mais percussivo, com ritmos brasileiros. O C vai um pouco mais além com o violão, sendo mais instrumental como característica geral. E o D é aquela coisa mais groovada, lenta, com melodia”, disse.

Resenha: Sepultura se supera de novo em Quadra

Ainda é cedo para absorver todo o conceito que o Sepultura declara ter apresentado em “Quadra”, mas dá para dizer que, mais uma vez, tudo funcionou bem. A banda considerou as críticas positivas de “Machine Messiah” (2017) e ofereceu um álbum que, de certa forma, soa como uma evolução de seu antecessor.

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A sonoridade segue mais elaborada e inventiva, mas ganhou versatilidade ainda maior com a proposta de ter “quatro lados” – ainda que não estejam tão bem definidos, o que é bom. Todos os integrantes soam mais à vontade: Andreas Kisser faz um trabalho grandioso na guitarra e na concepção do material, Derrick Green parece explorar sua voz e interpretação de formas cada vez mais seguras e Eloy Casagrande, um dos melhores bateristas em atividade no metal em todo o mundo, deu outra vida para o Sepultura. Com um álbum de tantos destaques pessoais, Paulo Jr seguiu discreto no baixo e, como habitual, ofereceu o necessário para o contexto geral.

Outro ponto que merece ser mencionado é a produção, de Jens Bogren, que voltou a elevar o patamar do material. Em “Machine Messiah”, o sueco já havia feito a diferença. Em “Quadra”, o trabalho dele soa essencial para que o álbum tenha início, meio e fim – seja explorando a veia mais pesada (e quase extrema) do Sepultura, seja ao saber como e quando acrescentar corais e sintetizadores sem soar cafona.

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Já conhecida do público, “Isolation” abre o álbum com uma introdução climática, mas se transforma em uma das músicas mais viscerais do Sepultura. No refrão, há trechos que se aproximam do death metal: cortesia da gigantesca performance de Eloy Casagrande. O baterista volta a se destacar em “Means to an End”, com versos mais intrincados e um momento cadenciado, no miolo, que introduz um clima diferente à canção.

Também divulgada anteriormente, “Last Time” reforça a intensidade vista em “Isolation”, mas com a guitarra de Andreas Kisser na linha de frente. O álbum ganha caráter mais experimental com “Capital Enslavement”, que aposta na percussão tribal na abertura e apresenta mudanças de andamento mais evidentes. A voz de Derrick Green é a “dona” dessa música. “Ali” mantém a essência da faixa anterior sem grandes surpresas.

Alguns dos melhores momentos de “Quadra” estão bem no meio da tracklist. “Raging Void”, um dos destaques do álbum, se destaca pelo refrão intenso e feito na medida para se entoar nos shows. “Guardians of Earth”, por sua vez, demora para começar com sua introdução acústica de quase 2 minutos, mas quando entra, demonstra grandiosidade. Alterna de um peso quase extremo para uma seção instrumental bem diferenciada, quase folk, a partir da segunda metade.

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A instrumental “The Pentagram” traz Andreas Kisser criando vários climas para Eloy Casagrande, novamente, brilhar. “Autem”, na sequência, reforça a influência do death metal na sonoridade. A faixa título, de 46 segundos, é uma vinheta acústica que antecede as duas músicas finais do álbum: as melódicas “Agony of Defeat” e “Fear, Pain, Chaos, Suffering”.

Talvez não tenha sido uma boa ideia, em termos de ritmo de tracklist, deixar as duas músicas mais lentas para o final de “Quadra”. Todavia, esse ponto não tira a qualidade das canções em si. “Agony of Defeat”, por exemplo, surpreende ao explorar vocais limpos de Derrick Green e deixa até uma ponta de curiosidade: como seria se o Sepultura criasse um álbum todo distante do thrash metal? Na mesma pegada, “Fear, Pain, Chaos, Suffering” traz não só a participação de Emmily Barreto, do Far From Alaska, como parece ter sido composta para ela. É outro grande destaque do disco – uma pena que não combine com a ideia de encerramento de um disco.

Cada vez mais disposto a surpreender, o Sepultura acertou de novo em “Quadra”. A formação está redonda, com performances incríveis de Eloy Casagrande e, cada vez mais, Derrick Green estabelecido como uma das grandes vozes do subgênero.

Ainda que tenha um conceito rico por trás, o álbum trabalha bem a mentalidade de homenagear, praticamente, todas as fases do Sepultura. Quem gosta de pelo menos um disco da banda, inclusive da formação “clássica”, vai gostar de “Quadra”.

Veja, a seguir, a capa e a tracklist de “Quadra”:

1. Isolation
2. Means to an End
3. Last Time
4. Capital Enslavement
5. Ali
6. Raging Void
7. Guardians of Earth
8. The Pentagram
9. Autem
10. Quadra
11. Agony of Defeat
12. Fear, Pain, Chaos, Suffering (com Emmily Barreto)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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