1984, o álbum que elevou o patamar do Van Halen

Van Halen – “1984”
Lançado em 9 de janeiro de 1984

Duas conclusões podem ser obtidas ao analisar o contexto do Van Halen durante a época em que “1984” foi lançado. A primeira é um tanto simplória: a banda teria acabado se o sexto álbum da banda não fizesse tanto sucesso. A segunda, por sua vez, é mais curiosa – e vai na contramão do que muitos dizem sobre o registro: “1984” não é tão diferente dos antecessores na discografia do grupo, embora tenha, sim, elevado o seu patamar.

O Van Halen apareceu para o grande público em 1978, com seu eletrizante álbum de estreia, autointitulado. Não é exagero dizer que, com aquele disco, Eddie Van Halen revolucionou a forma de se tocar guitarra e influenciou praticamente todo guitarrista surgido a partir dali. O problema é que, nos registros seguintes – “Van Halen II” (1979), “Women And Children First” (1980), “Fair Warning” (1981) e “Diver Down” (1982) –, a banda decaiu de forma progressiva. Fãs, como eu, gostam desses quatro álbuns citados, mas é unanimidade: nenhum deles chega ao patamar do primeiro registro do quarteto.

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Há uma explicação contextual para a eventual queda na qualidade dos álbuns do Van Halen. Seduzidos pelas cifras milionárias de turnês – e cumprindo obrigações contratuais que os faziam “pagar” as contas com a gravadora, Warner Music –, os integrantes da banda precisavam estar sempre na estrada. Por isso, lançavam praticamente um disco por ano e passavam meses na estrada. O antecessor direto de “1984”, “Diver Down”, reflete bem a crise criativa do grupo, pois é um disco que só tem quatro canções autorais (cinco são covers e as outras três são vinhetas ou trilhas instrumentais).

A relação entre Eddie Van Halen e o vocalista David Lee Roth também não era das melhores. Eddie queria trabalhar mais com sintetizadores, algo que já havia sido introduzido em duas faixas de “Diver Down” – o cover “Dancing In The Street”, original de Martha and the Vandellas, e a vinheta “Intruder”. DLR, por sua vez, desejava que Eddie seguisse nas seis cordas. O produtor Ted Templeman, que gravou todos os álbuns da banda até “1984”, concordava com Roth.

Eddie Van Halen ligou o f*da-se para os dois colegas e abusou dos sintetizadores enquanto trabalhava, sozinho, nas músicas que viriam a formar “1984”. Nesse período, ele construiu um estúdio dentro de sua casa, batizado de 5150 – sequência numérica que a polícia de Los Angeles usava para descrever “pacientes com problemas mentais” e que batizaria outro disco, lançado em 1986.

Os devaneios criativos solitários de Eddie aliados a um ano de 1983 sem turnês – naquele ano, a banda fez apenas uma curta turnê pela América do Sul e uma apresentação no US Festival, com um generoso cachê de US$ 1,5 milhão – fizeram com que o novo álbum, lançado em 9 de janeiro de 1984, soasse mais inspirado. Mistério solucionado: tudo o que a banda precisava era de alguns meses de tranquilidade, para trabalhar mais em suas composições, em vez de cair na engrenagem da indústria musical.

Em entrevista à Rolling Stone, Ted Templeman confirma esse ponto de vista. “A banda estava se virando para fazer as coisas por conta própria, em vez de agir como: ‘ei, faça isso, pois precisamos voltar logo para a estrada’. Eles tiveram um tempinho e trabalharam a criatividade. Trouxeram todo tipo de coisa, pois estavam de saco cheio de fazer o mesmo”, afirma o produtor.

“Jump”, a faixa que abre “1984” – após a vinheta de mesmo título do álbum –, resume esse conceito. A faixa é fortemente guiada por sintetizadores e tem um tempero pop bastante predominante. De início, a criação melódica de Eddie Van Halen não cativou ninguém da banda, conforme o próprio guitarrista revelou em entrevista à Rolling Stone. O músico afirma que compôs a abertura de “Jump” muitos anos antes de seu lançamento, mas David Lee Roth se recusou a fazer letras para a canção por, pelo menos, dois anos. Por sorte, DLR cedeu e o Van Halen lançou uma das canções mais cativantes da década de 1980, além de seu maior hit e único single de sua carreira a atingir o topo das paradas dos Estados Unidos.

Apesar de soar diferente do que estava sendo feito até então, “Jump” é, ao lado do também single (e também excelente) “I’ll Wait”, um dos poucos momentos em que os sintetizadores são usados, além da já citada faixa-vinheta-título. Nas demais músicas do álbum, as guitarras cortantes de Eddie Van Halen predominam.

As hard-rockers “Panama” e “Drop Dead Legs”, por exemplo, foram influenciadas pelo AC/DC, conforme relatado por Eddie em entrevista à Guitar World. Já “Top Jimmy”, uma homenagem ao frontman da banda Top Jimmy & The Rhythm Pigs, soa retrô. E as outras três faixas são bem pesadas e colocam o pé no acelerador: seja na divertida “Hot For Teacher” (que ganhou um clipe sensacional com direção de David Lee Roth), na climática “Girl Gone Bad” ou na antiga “House Of Pain”, que pouco lembra a versão demo de 1976.

À Guitar World, Eddie explica por que gosta de fazer álbuns com faixas tão diferentes entre si, como no caso de “1984”. “Uma vez, um músico me mostrou um novo álbum e todas as músicas tinham a mesma batida e até o mesmo tom. Mal dava para distinguir as faixas. Ele disse: ‘quando você pega o jeito, não quer perder’. Isso é o contrário da forma que penso. Gosto de ouvir álbuns que passam por mudanças, te levam para uma viagem e saem da zona de conforto. Gosto de fazer discos que podem ser ouvidos do início ao fim. Não curto muito gravar apenas singles”, afirma.

Como adiantado logo no início do texto, “1984” fez um baita sucesso. Além de “Jump” e “I’ll Wait”, as faixas “Panama” e “Hot For Teacher” foram lançadas como singles. Nos dias de hoje, o álbum contabiliza mais de 10 milhões de cópias vendidas nos Estados Unidos, além de acumular discos de platina dentro e fora do território americano.

Porém, nem mesmo o “novo” sucesso foi capaz de acalmar as tensões entre Eddie Van Halen e David Lee Roth. A turnê que promoveu “1984” foi bem curta, com apenas um giro pelos Estados Unidos de janeiro a julho de 1984, e Diamond Dave acabou saindo da banda em seguida, já em 1985 e de forma nada amigável, após as discordâncias com Eddie atingirem o ápice.

Além das diferenças criativas (DLR e guitarras versus Eddie e sintetizadores), David Lee Roth não gostava quando o guitarrista se envolvia em projetos paralelos, como a gravação do solo de “Beat It” (Michael Jackson), participação no projeto Star Fleet Project (com Brian May) e colaboração para as trilhas sonoras dos filmes “The Seduction of Gina” e “The Wild Life”. Além disso, o cantor almejava voos mais altos com sua carreira solo, recém-iniciada com o EP “Crazy From The Heat” (1985).

Sammy Hagar assumiu a vaga de David Lee Roth e, aí sim, o som do Van Halen mudou de verdade. Por tudo isso, “1984” não reflete, exatamente, uma revolução no som da banda: apresenta “apenas” o amadurecimento musical de uma proposta que já estava sendo desenvolvida. E já está de muito bom tamanho.

David Lee Roth (vocal)
Eddie Van Halen (guitarra, teclados)
Michael Anthony (baixo)
Alex Van Halen (bateria)

1. 1984
2. Jump
3. Panama
4. Top Jimmy
5. Drop Dead Legs
6. Hot For Teacher
7. I’ll Wait
8. Girl Gone Bad
9. House Of Pain

– Ouça a guitarra isolada de Eddie Van Halen em 15 músicas

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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