Volta de John Frusciante ao Red Hot Chili Peppers é tão boa quanto parece?

Agora é oficial: o guitarrista John Frusciante realmente voltou para o Red Hot Chili Peppers. A novidade foi divulgada de forma estranha, por meio de uma mensagem em formato Stories de Instagram que nem teve confirmação no site oficial, mas tudo indica que seja real – além do perfil da banda, a informação foi compartilhada pelo baixista Flea e pelo baterista Chad Smith.

A notícia foi celebrada por quase todos os fãs de Red Hot no geral. Sim, quase todos. Houve quem questionasse o retorno, por uma série de motivos que passam não só por Frusciante, mas pelo guitarrista que ocupou sua vaga na última década, Josh Klinghoffer, e o momento atual da banda.

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Vale fazer um resgate histórico para compreender os contextos do Red Hot Chili Peppers com e sem John Frusciante. O guitarrista é, obviamente, o mais importante da história da banda. Foi com ele que o grupo californiano gravou seus álbuns mais populares, como “Blood Sugar Sex Magik” (1991), “Californication” (1999) e “By the Way” (2002). O auge e a retomada do auge foram conquistadas com Frusciante.

Contudo, o sinal de alerta é devidamente aceso quando se considera o último álbum do Red Hot com Frusciante: o cansativo e exagerado “Stadium Arcadium”, que, sim, é idolatrado por muitos fãs e pode até ser visto como experimental em alguns momentos, mas acaba se perdendo em sua proposta. O próprio guitarrista se sentiu perdido em meio ao que o Chili Peppers havia se tornado e saiu, em 2009, citando que seus interesses musicais estavam em um caminho diferente.

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O percurso de John Frusciante fora do Red Hot Chili Peppers é bastante curioso. O guitarrista investiu pesado na música eletrônica e lançou uma série de álbuns de qualidade, no mínimo, contestável – não por deixar o rock, mas, sim, por serem fracos mesmos. Outros gêneros também são explorados nesses discos, que soam mais experimentais do que qualquer material feito pela banda titular. Só que falta algo.

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Também chama atenção o destino do Red Hot sem seu guitarrista mais famoso. A banda retomou suas atividades com um músico que não apenas soa muito parecido com seu antecessor, como, também, chegou a trabalhar com ele em materiais solo: Josh Klinghoffer, que gravou uma série de álbuns com John Frusciante. Um deles, inclusive, é creditado aos dois: “A Sphere in the Heart of Silence” (2004) leva o nome da dupla e, como esperado, soa experimental e flerta com o eletrônico.

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Diferente de Frusciante, Klinghoffer nunca teve a mesma liberdade no Chili Peppers. Os dois álbuns gravados com ele, “I’m With You” (2011) e “The Getaway” (2016) seguem propostas delimitadas pelos demais integrantes, especialmente Flea, no primeiro, e o vocalista Anthony Kiedis, no segundo. O guitarrista fez o que estava em seu alcance, mas as comparações com seu antecessor e a direção artística rigidamente imposta pelos “chefes” – algo que também rolava com Frusciante na formação – fizeram com que ele nunca se tornasse unanimidade entre os fãs.

Nos palcos, a sensação era ainda mais curiosa: a de acomodação. O Red Hot Chili Peppers sempre entrava para ganhar e mesmo quando o repertório trazia músicas mais raras, a performance parecia soar preguiçosa. Sempre correta, mas pouco ousada.

No fim das contas, Josh Klinghoffer pode nunca ter se encaixado no Red Hot Chili Peppers. Porém, a acomodação nos palcos e a busca por estabilidade em termos criativos também podem não criar um bom ambiente para o retorno de John Frusciante, que sempre pareceu ser um artista inquieto. Além disso, se a banda não passa por um bom momento, certamente, não é culpa de Klinghoffer e, sim, dos demais integrantes ou do conjunto.

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Frusciante pode estar voltando para sair, de novo, daqui alguns anos. Ou pior: o músico pode ter aceito mais uma dessas turnês caça-níqueis, de reunião, que estão cada vez mais na moda no entretenimento. A nostalgia nunca rendeu tanta grana: reboots, remakes, reuniões, retornos, relançamentos… Red Hot Chili Peppers. Acredito mais na primeira opção do que na segunda, já que o espírito inquieto do guitarrista e a sua pouca disposição para grandes turnês – está bem claro que nem de tocar ao vivo ele gosta – se sobressaem.

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É evidente que não dá para esperar tanta ousadia de uma banda gigante e em atividade há mais de 35 anos, contudo, a sensação de que o Chili Peppers está em dívida não vem de agora. Embora eu goste de “I’m With You” e de algumas músicas de “Stadium Arcadium” e “The Getaway”, impera o sentimento de que a banda parece ter perdido a vontade de progredir artisticamente há um bom tempo.

Claro que também há uma visão otimista de tudo isso, que é a mesma da maior parte dos fãs: a magia retornará com a volta de John Frusciante, já que o guitarrista fez história com a banda. Tudo pode se alinhar. Mas sabe quando algo não parece estar certo? É esperar para ver, sempre esperando pelo melhor, mas nunca com olhar de quem aceita qualquer coisa.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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