KK’s Priest aposta na atmosfera heavy metal old school em “Sermons of the Sinner”

Estreia da banda que conta com dois ex-integrantes do Judas Priest começa com alguns tropeços, mas se encaixa até o fim da audição

O guitarrista K.K. Downing deixou o Judas Priest em 2011 rumo ao que parecia ser uma tranquila aposentadoria. Não foi o que aconteceu – e uma história tumultuada, ao que tudo indica, terá um final feliz graças ao KK’s Priest, que acaba de lançar seu álbum de estreia, “Sermons of the Sinner”, pela gravadora Explorer1 Music Group/EX1 Records. .

Em 2018, após ter sido anunciado que o também guitarrista Glenn Tipton seria afastado do Priest devido a um diagnóstico de Parkinson, Downing pediu para voltar à banda que integrou desde 1970. Os colegas não aceitaram. O veterano, então, sentiu-se “revigorado” pela treta e começou a compor o que se tornou o álbum de estreia do KK’s Priest.

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Aliás, o nome KK’s Priest não é só uma óbvia menção ao lendário ex-grupo de Downing. Além das claras referências sonoras, típicas do chamado heavy metal tradicional, o guitarrista conta com outro ex-colega de Judas na formação: o vocalista Tim “Ripper” Owens, que substituiu Rob Halford entre 1996 e 2003. O guitarrista A.J. Mills (Hostile), o baixista Tony Newton (Voodoo Six) e o baterista Sean Elg (Deathriders, Cage) completam a lista de músicos envolvidos.

Foto: divulgação

Em entrevista exclusiva a IgorMiranda.com.br, que será publicada na íntegra em breve, K.K. Downing adiantou o que esperar de “Sermons of the Sinner”:

“Esse álbum tem o que se espera de qualquer um dos seus álbuns favoritos em que eu estive envolvido antes. Temos algumas músicas mais longas, mais profundas, com mais instrumentação, mais orquestração… e outras que nunca venceriam uma premiação, mas são cheias da essência do heavy metal, tipo: ‘vamos entrar no carro e ir para um show de metal, vamos curtir no estacionamento e depois vamos nos divertir no show’.”

Ouça “Sermons of the Sinner” abaixo, via Spotify, ou clique aqui para conferir em sua plataforma de streaming preferida. Uma resenha faixa-a-faixa está disponível a seguir.

O álbum, faixa-a-faixa

A vinheta introdutória Incarnation prepara o clima para a primeira paulada de “Sermons of the Sinner”: a já conhecida “Hellfire Thunderbolt”, um bom cartão de visitas do KK’s Priest, com sonoridade típica do álbum “Painkiller” (1990), clássico do outro Priest. As guitarras se destacam e Ripper tem boa performance, ainda que com alguns exageros vocais.

O cantor eleva o tom na sequência, com a faixa-título, cujas partes agudas começam a incomodar – um problema recorrente ao longo do disco. Por outro lado, nesta música, o baixo de Tony Newton surpreende positivamente.

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Um dos momentos mais interessantes do álbum é “Sacerdote y Diablo”, que, apesar do título, não é cantada em espanhol. A letra, aliás, parece trazer uma referência à briga de K.K. Downing com o Judas Priest (o “Sacerdote”) e a empresária Jayne Andrews (o “Diablo”), relatada em várias entrevistas e até no livro autobiográfico do guitarrista, “Heavy Duty“.

As próximas duas músicas trazem o ponto mais fraco do álbum de estreia do KK Priest’s. Curiosamente, ambas têm como premissa emular momentos específicos de sua banda “irmã” mais famosa. São elas: “Raise Your Fists” e “Brothers of the Road”, que tentam soar mais hard rock, ao estilo de faixas como “You’ve Got Another Thing Comin’”, “Living After Midnight” e “Desert Plains”, do Judas. Infelizmente, não funcionou tão bem.

A partir daí, porém, o nível sobe bastante: algumas das melhores músicas estão ao fim do trabalho. É impossível não se lembrar da cadência de “Metal Gods” quando entram os versos de “Metal Through and Though”, um ótimo épico que supera os 8 minutos de duração e tem boas mudanças de andamentos, coros típicos e boas linhas do até agora discreto Sean Elg.

O nível permanece alto com “Wild and Free”, com um refrão adequado e uma bem-vinda orientação a um som heavy metal mais contemporâneo. “Hail for the Priest” vem em uma pegada similar, com Downing e Mills entregando um competente trabalho de guitarras. O encerramento fica a cargo de “Return of the Sentinel”, ótima faixa de quase 9 minutos com mais uma referência – agora acertada – ao Judas Priest. Continuação direta do clássico “The Sentinel”, do álbum “Defenders of the Faith” (1984), a faixa é um épico na concepção do termo, com direito a citações sonoras diretas ao clássico do Judas.

Como curiosidade, vale destacar que K.K. Downing deixou no ar a possibilidade de produzir uma sequência para “Return of the Sentinel” – ou seja, uma “sequência da sequência”.

“Muitos anos atrás, um amigo sugeriu que eu revisitasse algumas coisas que fizeram parte da minha vida. Quanto mais pensava nisso, mais gostava da ideia de trazer um pouco de meu legado e minha vida ao presente, ligando-o ao meu futuro. Pode ser um grande desafio, mas não foi tão difícil, pois tive uma visão clara do que fazer com essa música. Talvez, no futuro, tenhamos até mesmo uma sequência da sequência, o que seria bem legal.”

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O veredito

“Sermons of the Sinner” é feito para o fã de heavy metal que sente falta de uma pegada mais old school. Não espere uma reinvenção da roda: o KK’s Priest surgiu como um desdobramento dos melhores momentos do Judas Priest.

Acima de tudo, esse trabalho representa a volta de um músico experiente, que é K.K. Downing. Ainda há pontos a serem “polidos” pela banda, em um possível próximo trabalho – que já está sendo composto -, entretanto, o saldo geral é positivo.

Foto: George Chin

As guitarras são o grande destaque ao longo da tracklist. Riffs, solos e passagens dobradas convencem o ouvinte logo de cara.

Tim “Ripper” Owens, também na linha de frente, é um grande cantor, de muita técnica e história. Por vezes, coloca sua performance a perder com excessos vocais que comprometem a experiência do ouvinte; contudo, quando resolve “jogar mais para o time”, faz muito bem.

O restante da banda é competente, considerando o seu reconhecido papel coadjuvante. Tony Newton e Sean Elg sabem que devem oferecer apenas um pano de fundo e às vezes até parece faltar uma base mais sólida, mas a dupla não deixa a desejar.

O sentimento que fica com “Sermons of the Sinner” pode ser resumido com um trecho da letra de “Return of the Sentinel”, fazendo um paralelo com o próprio K.K. Downing:

“O Sentinela em sua glória, mas não mais em seu auge; Vencendo ou perdendo esta batalha, ele resistiu ao teste do tempo.”

O álbum está em minha playlist de lançamentos, atualizada semanalmente. Siga e dê o play:

KK’s Priest – “Sermons of the Sinner”

  1. Incarnation
  2. Hellfire Thunderbolt
  3. Sermons of the Sinner
  4. Sacerdote Y Diablo
  5. Raise Your Fists
  6. Brothers of the Road
  7. Metal Through and Through
  8. Wild and Free
  9. Hail for the Priest
  10. Return of the Sentinel

* Texto redigido por André Luiz Fernandes, com edição e complementos por Igor Miranda.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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